quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Impossível Pra Mim

(canta: Lula Espírito Santo)

acho que esqueci
de te esquecer
já não quero a paz
sem ter você
todo canto traz
saudade e dor
perto ou longe sou
um amador
foi tempo demais
reveses do amor

desacreditei
acho que sim
te amaldiçoei
nem mesmo assim
porque, sei
não há mágica
só um dissabor
e essa lástima
esquecer ficou
impossível pra mim


(versão brasileira, por Lula Espírito Santo e Marco Valença, da canção Unforgettable, de Irvin Gordon, imortalizada pela voz de Nat King Cole).

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


AS CICATRIZES DAS COISAS

Aquele era um vaso ming
de longínqua dinastia e
deu-se que, por deus
mal humorado, gato na casa,
vento na cortina, olho gordo (mal
olhado, catimba, macumba, ebó) ou
falta de luz repentina, deu-se
que o vaso, por demais
bom,
multiplicou-se em cacos e partículas.

Com lamento sem espanto,
com dedicação sem mágoa
ele o reconstituiu farpa por
farpa, lâmina por
lâmina, grãos de pó de porcelana,
relances de reflexos.

Grave em sua aguda tarefa,
só depois sorriria com gosto e humildade
sem olhar as falas daqueles
que disseram: este não é
mais um vaso ming.
Sorria enquanto, com as pontas
dos dedos acariciava
as ranhuras, as veias, os
quelóides daquele
esplêndido ser
inanimado.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009


SOBRE PONTES


Haja contêineres de passado
e toneladas
de linhas do horizonte
de futuros.

Mas o momento presente
é ponte.
E uma ponte é nenhum
lugar
ou tempo.
Sobre
mares, rios, lagos, pistas de rodagem –
cada local
tem seu tempo e lugar, instante e estabelecimento,
marés, luas, chuvas, destemperamentos, velocidades.
E uma ponte não é
nenhum tempo ou lugar.
Você leu a palavra
presente
(lá em cima)
e piscou os olhos
e no que pestanejou
tudo isso já era: passado.
e a próxima linha é:
um futuro limitado – já
que a morte do futuro é automática.
Mas você volta os olhos
para reler
e este ato
visita um passado acabado
um futuro redivivo
um presente exacerbado.
Haja
lugar e tempo
haja
casa e relento
haja vida
para os caminhantes sedentos
de horizontes:
de ontens,
hojes,
amanhãs
e sempres.
(como o verbo agir),
Haja
pontes!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


COISA DE LOUCOS

palavras são passageiras
e se vão
palavras são
passageiras
mas não em vão
em barco, avião,
trem e carro
elas vão e vem
mas não são vãs
palavras são más
e boas, cruéis,
carentes, às tontas
são passageiras
pagam pedágio
exigem troco
palavras são momentos
mágicos
língua de sábios
coisa de loucos.